domingo, 9 de janeiro de 2011

Neoplasias

É um crescimento tecidular novo com origem em tecidos normais que sofreram modificações genéticas transmissíveis à descendência. As suas células são insensíveis aos mecanismos de controlo de crescimento e à imunidade citotóxica, expandindo-se para lá dos seus limites anatómicos.


Tumores benignos (sufixo -oma)
- Não invadem os tecidos envolventes
- Não se disseminam à distância para outros órgãos (metastização)
- Raramente são a causa da morte do seu portador
- O seu comportamento poderá ser maligno pela sua localização e dimensão


Tumores benignos epiteliais
- adenoma - aparência ou origem glandular
- papiloma - superfície epitelial
- pólipos - superfície mucosa


Tumores malignos (sufixo -sarcoma)
- Invadem os tecidos envolventes
- Disseminam.se à distância para outros órgãos (metastização)
- Frequentemente causam a morte do seu portador
- Linhas celulares eternas - não perdem a sua capacidade de proliferar
- Estimulam a angiogénese, a partir da qual crescem exponencialmente


Tumores malignos epiteliais
- Carcinoma
   - Esquirrossos - estroma fibroso
   - Escamoso - metaplasia escamosa (queratina)
   - Mucinoso - muco
   - In situ - não invade a membrana basal nem o estroma
- Adenocarcinoma


Indiferenciados / Anaplásicos - comportamento celular inesperado, não dá para prever - mau prognóstico


Tumores mistos - origem mista


Características tecidulares indicativas de malignidade
- perda de organização
- perda de função
- desregulação das células


Outras alterações que não são neoplasias mas as podem caracterizar
- Hiperplasia - aumento do número de células - pode levar ao cancro mas não é obrigatório
- Metaplasia - alteração de características das células - ex: células do epitélio respiratório perderem os cílios
- Displasia - células perdem características e acumulam-se em direcção à superfície


Origem
- mesenquimatosa - mesoderme
- epitelial - ectoderme ou endoderme


Motivos pelos quais levam à morte:
- Espoliadores - requerem um grande dispêndio de nutrientes
- Afectam gravemente a capacidade funcional dos órgãos e sistemas
- Interferem nos mecanismos de homeostasia
- Comprimem e destroem estruturas vitais


Escalas
- Estadio - evolução do tumor - 1-4
- Grau - diferenciação celular - 1-3


Diferenciação celular
- Características morfológicas, organizacionais e funcionais que permitem distinguir um tecido relativamente a outro
- As células dos tumores malignos são menos diferenciadas que as dos benignos, pelo que os malignos têm uma maior diversidade morfológica - células bizarrasm anormalmente grandes, multinucleadas ou macronucleadas


Malignidade
- aumento do volume
- aumento da relação núcleo / citoplasma
- maior basofilia
- vários núcleos
- núcleos com chanfradura


Os animais vivem cada vez mais tempo pela melhoria da sua qualidade de vida. Com o avançar da idade, os mecanismos de controlo e reparação começam a falhar, aumentando a probabilidade de ocorrência de uma mutação e, consequentemente, o risco de contrair cancro. Esta situação apenas se verifica em animais de companhia, visto que os animais de produção continuam a ser abatidos precocemente.


Osteoma
- tecido tumoral com características iguais ao tecido ósseo normal
- excelente diferenciação


Osteossarcoma
- osteolíticos
- dores muito fortes, não conseguem andar
- ocorre com maior frequência em cães jovens de grande porte (2-3anos) pelo seu crescimento ósseo muito acelerado - maior probabilidade de mutação


Imagem 1: Osteossarcoma na tíbia de num cão (Fonte: http://vetspecialists.co.uk)


Fibrossarcoma felino
- muito frequente em Gatos - muito grave
- desenvolve-se novamente depois de ter sido extirpado (1 mês depois)
- em locais de injecção de vacinas e antibióticos (1 em cada 1000 gatos)
- muito infiltrativo - remoção mutilante
- reacção inflamatória particular do gato


Imagem 2: Fibrossarcoma felino retirado da parte posterior do pescoço de um gato (Fonte:http://w3.vet.cornell.edu/nst)


Hemangiossarcoma
- dissemina-se com muita facilidade


Imagem 3: Hemangiossarcoma no fígado de um ovino (Fonte:http://w3.vet.cornell.edu/nst)


Linfoma
- sempre maligno mas com diferentes graus de malignidade
- comum - quimioterapia tem sucesso - não cura mas pára (alguma regressão)
- amigdalas hiperplasiadas
- pode infectar órgãos que não os linfóides

Imagem 4: Linfoma num cão com hipertrofia dos linfonodos cervicais (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)

Mastocitoma
- mastócitos
- tem a aparência de qualquer outro tumor
- muito infiltrativo mesmo com alto grau de diferenciação - extirpação tem de ser ampla
- punção aspirativa antes da abordagem cirurgica para confirmar a origem do tumor

Imagem 5: Mastocitoma no membro anterior esquerdo de um Cão (Fonte:http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)

Papilomatose oral
- inflamação viral
- tumores benignos - inócuos excepto se o animal não se conseguir alimentar
- daí a 6 meses começam a cair
- a auto-vacina acelera o processo de rejeição do tumor

Imagem 6: Papilomatose oral num Cão (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
 Carcinoma escamoso ou espino-celular
- escamas - espinhas unem as células - desmossomas
- exposição solar - pele despigmentada mais propensa
- destruição do pavilhão auricular e das pálpebras
- também aparece no Cão, mas é quatro vezes mais frequente no Gato
- na boca provoca osteólise - destrói a mandibula
- adaptam-se muito bem a proteses da mandíbula



Imagem 7: Carcinoma escamoso no nariz de um ovino (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)

 Melanomas
- menos grave nos animais
- cavidade bocal - muito malignos, metastização à distância - osteólise
- não reagem muito à quimioterapia



Imagem 8: Melanoma congénito na pele de um leitão (Fonte:http://w3.vet.cornell.edu/nst)

Carcinoma prostático
- raro no Cão, quase inexistente no Gato (próstata insignificante)
- elevadíssima capacidade de disseminação
- nem semrpe aumenta o volume, às vezes até diminui



imagem 9: Adenocarcinoma da próstata com invasão da uretra (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)


No rim, o aumento da massa pode significar a compensação do mais pequeno que está com problemas.

Células da Glia
- reagem mal à quimio e à radioterapia
- hidrocefalia, compressão do tálamo



Imagem 10: Astrocitoma (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)
 Tumores mamários
- ocorrem com maior frequencia nas mamas 4 e 5
- 50% são malignos nas cadelas enquanto 90% são malignos nas gatas


Imagem 11: Tumor mamário ulcerado (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)



 Sertolinoma
- podem provocar hiperestrogenismo
- consequencias nefastas quando os testiculos não descem





Imagem 12: Perda de pêlo e hipertrofia dos mamilos devido ao hiperestrogenismo causado por um sertolinoma num testiculo retido na cavidade abdominal (Fonte:http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)
 
Imagem 13: Sertolinoma num testiculo retido na cavidade abdominal (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)


Tumor venéreo transmissível
- já é pouco frequente
- reage bem à quimioterapia



Imagem 14: Tumor venéreo transmissível (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)



Tumores de grandes dimensões não são muito infiltrativos nem metastizam muito.


Proliferação celular
- tecidos lábeis - proliferação muito activa - equilibrio entre a proliferação e a morte celular
- tecidos estáveis - equilíbrio - dividem-se facilmente mas só quando é preciso
- tecidos permanentes - não há renovação, células muito especializadas


Tecidos onde é mais frequente ocorrerem mutações - pele, glândulas apócrinas...

Horizonte temporal
- periodo latente antes de ser detectado - não há G0 mas a divisão é muito lenta, pode levar 10 anos até ter uma dimensão detectável
- dimensão detectável por meios imagiológicos (1g) - síntese de níveis detectáveis de proteínas que levam à irrigação da massa tumoral

Carcinogénese - aparecimento e desenvolvimento do tumor
- Iniciação - A exposição repetida a agentes carcinogénicos pode provocar a mutação irreversível de um gene que dê à célula a capacidade de proliferação e a resistência à apoptose características das células tumorais, esgotando assim os mecanismos de regulação do organismo
- Promoção - proliferação das células iniciais - reversível
- Progressão - tumor metastático - fase final do desenvolvimento de um tumor maligno - irreversível

A célula tumoral poder morrer naturalmente sem se propagar.

Hematúria Enzoótica Bovina - feto comum
- por exposição continuada durante cerca de 10 semanas pode provocar hemorragias intravesicais consequentes de carcinoma da bexiga



Imagem 15: Hematúria enzoótica bovina (Fonte: http://invetsa.perulactea.com)

O tratamento deve ser dirigido ao estroma de suporte, tendo assim em consideração a célula tumoral e o meio onde está envolvida - conceito heterotípico

Há tumores que se metastizam com maior sucesso em certos órgãos
- bexiga - cérebro
- mama - osso / pulmão
- cólon - fígado

Angiogénese
- formação de novos vasos a partir dos pré-existentes - proliferam em direcção à massa tumoral naturalmente
- é essencial para o crescimento exponencial dos tumores

Metastização: as células mobilizam-se por vias trans-celómicas - via linfática ou sanguínea - e só metastizam onde lhes é mais favorável

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Hemorragia

Quanto à causa:
Pode ser no vaso, ou fora do vaso
Rexis - corte
Diabrose - pela acção de enzimas ou pus (neutrófilos) perto do vaso, necrose
Diapedese - aumento da permeabilidade vascular, toxinas e agentes endoteliotrópicos - bacillus anthraxis, PSA

Tamanho da hemorragia:
Petéquias - pequenas pontuações
Imagem 1: Petéquias no rim de um suíno com peste suína africana (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)
Púrpuras - até 1cm de diâmetro
Equimoses - até 2/3cms de diâmetro
Sufusão ou mácula
Imagem 2: Sufusão na região axilar de um leitão por carência de vitamina K (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
Extravasão
Hematoma - acumulação na cavidade

Quanto à localização:
Epistaxis - nas fossas nasais
Imagem 3: Epistaxis num bovino (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
Hemoptise - pela boca, vindo do tracto respiratório (expectoração)
Hematemese - pela boca, vindo do tracto digestivo
Enterorragia - No intestino ou ânus, visível nas fezes (se tem coloração escura é uma melena e está mais distante do ânus; de tem uma coloração mais vermelha está mais próximo do ânus)
Imagem 4: Hemorragia intestinal num gato (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)

Rectorragia - fezes de coloração vermelha viva
Hematúria - saída de sangue pela urina, lesão no aparelho urinário
Hematoma / hematoquisto - cavidade formada pelo sangue


Superfície/externas
Internas

Idade:
Recente - tem eritrócitos que podem estar um pouco alterados
Antiga - tem principalmente macrófagos com hemossiderina - hemólise e hemossiderina

Intensidade:
Ligeira - não interfere de forma significativa
Moderada
Grave - pode levar a choque hemorrágico, com perda de mais de um terço do sangue total

Macroscopicamente tem uma coloração vermelho vivo / arroxeada
Microscopicamente encontramos glóbulos vermelhos fora dos vasos sanguíneos

Resolução:
Coágulo - organização e fibrose
Infecções microbianas - pus
Aderências / Calcificação

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Inflamação

A inflamação é a resposta do organismo a uma alteração/agente agressor. Provoca geralmente, no local, um aumento da temperatura e o aparecimento de uma cor mais avermelhada (hiperémia), edema (tumefacção), dor (por contracção das terminações nervosas) e perda da função.

Inflamação aguda

É uma resposta inespecífica do organismo ao agente patogénico, semelhante para  diversos agentes agressores.
Caracteriza-se pelo aparecimento de edema exsudado, hiperémia, neutrófilos, proteínas, fibrina e eventualmente macrófagos.
é possível a existência de uma inflamação do tipo mista, ou seja, onde se encontrem características simultâneas das inflamações abaixo referidas.
  • Serosa ou edematosa - todos os elementos estão presentes mas há predominância do edema exsudado; verifica-se quando o agente é pouco patogénico, ou na primeira fase de uma pneumonia.

Figura 1: Inflamação edematosa nos pulmões de um cavalo adulto (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
  • Mucosa ou catarral - há necrose mais ou menos extensa dos epitélios e produção de muco. Provoca descamação celular. Todos os restantes elementos estão presentes mas em menores quantidades.

Imagem 2: Inflamação catarral no casco de um bovino (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
  • Fibrinosa - todos os elementos estão presentes mas prevalece a fibrina que pode estar mais ou menos aderente aos tecidos. Dentro deste tipo de inflamação poderemos ainda caracterizá-la como inflamação crupal, quando a pseudo-membrana formada se destaca facilmente, ou como inflamação diftérica, quando há destruição dos tecidos subjacentes., uma vez que a fibrina se encontra nestes. Isto vai depender dos mediadores, e do local e patogeneicidade do agente. Pode ser letal se, por exemplo, obstruir as vias respiratórias.

Imagem 3: Vulva de cabra com inflamação fibrinosa (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
  • Purulenta - grande acumulação de polimorfonucleares neutrófilos com a formação e predominância de pus.

Imagem 4: Broncopneumonia purulenta (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)
  • Hemorrágica - é causada por um agente causal muito patogénico, levando a um aumento de permeabilidade vascular muito grande. Evolui rapidamente, e pode ter poucos neutrófilos, por o animal ter morrido antes que estes tivessem tempo de lá chegar ou se é disseminada. Ocorre em doenças como a peste suína africana (PSA)
Imagem 5: Linfadenite hemorrágica dos linfonodos mesentéricos
na Peste Suína Africana (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)
  


Inflamação crónica
É uma resposta específica do organismo face ao agressor, que se pode iniciar rapidamente. Ocorre geralmente após uma reacção inflamatória aguda ineficaz.
Encontram-se, nesta, linfócitos, plasmócitos, e por vezes neutrófilos ou tecido conjuntivo fibroso.
Ao contrário da inflamação aguda, esta é caracterizada pela existência de edema exsudado ou ocorrência de hiperémia.

Inflamação granulomatosa 
É um tipo especial de inflamação crónica que ocorre em último caso, quando nenhum dos tipos anteriores conseguiu resolver o problema.
Há a acção de células do sistema fagocitário (macrófagos, células de Touton), e epiteliais gigantes (têm a função principal de secretar substãncias). Estas células dispões-se em torno do corpo estranho ou agente patogénico em questão.

Edema

Acumulação anormal de líquidos (rápida -picadas de insecto ou queimaduras- ou lenta -défices nutritivos) compostos de água, sais e proteínas, nos espaços intersticiais ou nas cavidades corporais.

Nomenclatura, quanto à localização:
Hidrotórax (caidade pleural)
Hidropericárdio
Ascite, hidropisia ou hidroperitoneu (cavidade abdominal)
Hidrocelo (testículos)
Hidrocéfalo (encéfalo)
Anasarca (tecido subcutâneo, generalizado)
Elefantiase (membros e órgãos genitais)

Forças de Starling
Pressão hidrostática - relativa ao sangue circulante nos vasos
Pressão oncótica - relativa às proteínas circulantes
Um desequilíbrio nestas duas pressões pode levar à ocorrência de edemas.

  • Transudado (não inflamatório ou hemodinâmico) - deriva de alterações nas pressões; (desequilíbrio nas forças de Starling) é transparente e tem uma baixa quantidade de células e proteínas; tem uma densidade inferior a 1018.
  • Exsudado (ou inflamatório) - é gerado por uma resposta inflamatória aguda que leva a alterações de permeabilidade (pelos seus mediadores);  é relativamente turvo, com bastantes células e proteínas; tem uma densidade superior a 1018.


Pode ser localizado/regional (mais comum, causado por uma obstrução nos vasos sanguíneos ou linfáticos) ou sistémico/generalizado (é chamado anasarca quando é grave, pode derivar de um processo alérgico).

Um edema não inflamatório pode ser provocado por um aumento da pressão hidrostática intravascular (dificuldades de retorno venoso ou dilatação arteriolar), uma diminuição da pressão oncótica por hipoproteinémia, uma maior retenção renal de água/sais (sódio) ou uma obstrução do fluxo linfático.

Macroscopicamente, observa-se um líquido, que em pulmões é espumoso devido à sua mistura com o ar. Este pode também ser sanguinolento, caso esteja relacionado com uma congestão. Os órgãos podem encontrar-se aumentados, mais pesados.
Microscopicamente, há a presença de uma substância rosada. Pode estar presente fibrina, hemácias, leucócitos ou mesmo ocorrer fibrose em casos crónicos.

Imagem 1: Pulmão, microscopicamente, com edema (fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst).

Imagem 2: Pulmão de gato com edema, que lhe confere um aspecto brilhante (Fonte: http://intranet.fmv.utl.pt/atlas)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Hiperémia ou Congestão Activa

A hiperémia resulta da congestão a nível arterial, resultando numa vasodilatação e num aumento do peso do órgão pela acumulação de sangue dentro dos vasos. É característica da inflamação aguda. Pode haver rebentamento da circulação para a marginação dos leucócitos.

Macroscopicamente, tem uma coloração vermelho vivo (devido ao sangue arterial). À secção de corte há saída de sangue abundante.
Microscopicamente, há uma boa visão dos vasos, que se encontram cheios de sangue e dilatados.


Imagem 1: Hiperémia nos pulmões e coração de um primata (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)