domingo, 31 de outubro de 2010

Litíase Úrica

Esta é uma lesão secundária ao metabolismo das purinas, encontrada mais vulgarmente na bexiga e uretra de cães dálmatas.
Ocorrem cálculos em tubos ou cavidades onde existe bastante ácido úrico, predominando este na sua composição (fazem parte destes também outras substâncias, como por exemplo pigmentos).
Forma-se à volta de um corpo estranho, indo o ácido úrico depositar-se e acumular à sua volta. Isto dá-se principalmente em urina ácida, o que reduz a sua solubilidade. Têm uma coloração entre o amarelo e o castanho, sendo firmes, de tamanho variável, mas não muito grandes, podendo a sua forma ser esférica ou irregular.
Imagem 1: Litíase renal num rim de cão (Fonte: http://www.fmv.utl.pt/atlas).

Gota ou Nefrite Urática

A gota é uma lesão secundária às perturbações do metabolismo das purinas, que consiste na deposição de ácido úrico nos tecidos conjuntivos e membranas serosas, sob a forma de cristais de urato de sódio.
Afecta principalmente as articulações (gota articular), pleura, peritoneu e rins (gota visceral)


Na maioria das espécies de mamíferos existe a enzima uricase, que transforma o ácido úrico, que é insolúvel, em alantoína, um composto mais facilmente solúvel e o produto final do metabolismo das purinas.


Na espécie humana e nas aves não há a uricase, e na raça de cão dálmata estes não a usam, daí o produto final do metabolismo ser o ácido úrico, tornando-se nestes espécies mais comum a ocorrência de gota.




As suas causas podem ser genéticas, ou relacionadas com deficiência de vitamina A ou falta de água no organismo. 



O excesso de ácido úrico no sangue vai levar à sua deposição na forma de cristais hidrossolúveis, com a ocorrência de uma reacção granulomatosa. Por esta ser uma substância inerte, vai ocorrer a acção de células do sistema fagocitário que acabam por morrer, levando à libertação de enzimas, com a consequente necrose das células dos tecidos circundantes, e ao aumento na reacção inflamatória.


Microscopicamente
Há focos de necrose com linhas confluentes "vazias" (cristais hidrossolúveis que foram dissolvidos na técnica histológica), rodeados por um granuloma, com a presença de células fagocitárias, linfócitos ou plasmócitos. 


Macroscopicamente
Tem um aspecto esbranquiçado e firme, semelhante a gesso.

Imagem 1: Cristal de urato no fígado de Pituophis catenifer - serpente (Fonte: http://w3.cornell.vet.edu/nst). 
Imagem 2: Gota articular nos membros posteriores de galo (Fonte: http://w3.cornell.vet.edu/nst).

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amiloidose

É uma doença não muito comum, progressiva, que pode ser irreversível e fatal. Tem várias formas, sendo a "doença dos pezinhos" um exemplo desta, genética e que atinge o sistema nervoso.
A sua origem não é certa, mas pode estar relacionada com a fagocitose de imunocomplexos e proteínas desnaturadas, a degradação enzimática de várias proteínas/polipéptidos e com a exocitose de cadeias leves de globulinas, percursoras da substância amilóide.
Há assim a deposição de substância amilóide, composta predominantemente por uma proteína anormal produzida no organismo, tendo também outras substâncias (carbohidratos, lípidos). A composição química varia no mesmo indivíduo, entre indivíduos e entre espécies.
A substância vai-se acumulando e substituindo as células, impedindo a sua regeneração e alterando a função dos órgãos a que pertecem. Provoca também insuficiência cardíaca e proteinúria.
É mais comum que afecte órgãos do que tecidos isolados, sendos os principais afectados o fígado, o baço, o pâncreas e o intestino, em determinadas regiões.


Tipos de substância amilóide
AL - primitiva, mais comum em humanos. É composta por cadeias leves de imunoglobulinas. Está associada a células B (plasmócitos e linfócitos B)
AA - secundária/sistémica reactiva, mais comum em animais. Deriva de uma proteína percursora que existe normalmente no sangue, a SAA, que é sintetizada no fígado sob influência da citocinas (libertadas durante a resposta inflamatória aguda).

Microscopicamente
Rosado, acidófilo, amorfo, sem estrutura; assemelha-se à substância hialina.
Caso a preparação tenha sido corada com vermelho do Congo, a substância amilóide apresenta a cor laranja.
Imagem 1: Amiloidose num rim observada microscopicamente (Fonte: http://www.fmv.utl.pt/atlas)

Macroscopicamente
Esbranquiçado, de aspecto "atoucinhado", principalmente na polpa vermelha do baço.



Imagem 2: Rim de bovino com amiloidose observado macroscopicamente (Fonte: http://www.fmv.utl.pt/atlas)







Alteração de fibras elásticas

Esta alteração pode levar a casos de Elastose, em que se verifica um aumento na produção de fibras elásticas.


Pode ocorrer:
  • em escleroses;
  • no estroma de tumores, que, tendo a função de nutrir e suportar, acompanha o rápido crescimento das células tumorais deste.
     
  •  
Imagem 1: Elastose no coração de um cão (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu/nst)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Substância hialina

Esta substância tem características hialinas, é relativamente sólida, sem estrutura, amorfa e rica em proteínas (que predominam na sua composição) diversas, tanto normais como anormais, degradadas, e possuindo também algumas substâncias não proteicas.
Por vezes surgem deposições de substância hialina em diversos tecidos, substituindo o normal.
Este excesso de proteínas pode dever-se a factores como alterações do metabolismo, problemas na filtração ou mesmo à ingestão excessiva de proteínas. 


Microscopicamente, tem uma aparência rosada, acidófila, e sem estrutura.
Macroscopicamente, tem um aspecto esbranquiçado.

Imagem 1: Músculo com deposição de substância hialina (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).



Gotas hialinas
Podem ser encontradas no citoplasma das células epiteliais dos tubos contornados renais, correspondendo a uma excessiva reabsorção de proteínas do lúmen dos tubos renais (por endocitose). Surgem por alteração da permeabilidade glomerular.
Pode verificar-se, num indivíduo onde isto se passe, a proteinúria (excesso de proteínas na urina).

Cilindros hialinos
Presença de substância hialina nos tubos renais, formando cilindros (molde dos tubos) sólidos.
Visível microscopicamente, é uma substância rosada presente no lúmen dos tubos renais. Mais difícil de ver macroscopicamente, tem aspecto esbranquiçado. 

Hialinose arteriolar
A substância hialina deposita-se entre as fibras musculares da parede das arteriolas. Observa-se o espessamento da parede do vaso e a consequente diminuição do lúmen.

Pneumopatias com a presença de membranas hialinas
Formam-se pseudo-membranas ao nível dos bronquíolos terminais, canais alveolares e alvéolos e há um aumento da permeabilidade vascular. A substância hialina adere aos alvéolos perturbando as trocas gasosas.
Microscopicamente, é possível verificar a existência de uma "pseudo membrana" de substância hialina aderente aos alvéolos.

Imagem 2: Pulmão microscopicamente, com membrana hialina (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).

Imagem 3: Pulmão macroscopicamente, com membrana hialina (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).
De placas hialinas para fibrose:
Num processo inflamatório agudo há edema por alterações da permeabilidade vascular. Se este não é reabsorvido pode haver formação de placas hialinas aderentes à parede dos vasos, o que progride para uma fibrose. É um fenómeno raro.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Esclerose / Fibrose

A fibrose deve-se à presença de fibroblastos com a produção, principalmente, de colagénio, levando ao endurecimento de um tecido/órgão.
Pode alterar ou manter a função da área afectada.


  • sistematizada
Respeita a organização dos tecidos, ocupando a zona ocupada já previamente por tecido fibroso.
Ex.: No fígado, pode ocorrer que o tecido conjuntivo fibroso se acumule nos espaços interlobulares, formando linha esbranquiçadas a delimitá-los.
  • mutilante
É a mais frequente. Mais facilmente altera a função do órgão/tecido, uma vez que se deposita desorganizadamente. A sua forma e o seu tamanho variam consoante a lesão que ocorreu.



Microscopicamente
Feixes densos de colagénio e fibroblastos em número variável.
Macroscopicamente
Zona lisa, brilhante, clara e firme.



Quanto à causa, pode ser:

- Esclerose pós-inflamatória ou pós-necrótica - a mais frequente.
- Esclerose distrófica - secundárias a um processo geral ou acompanhando e acentuando a arquitectura existente.


A esclerose, de acordo com a idade, é classificada em:
Recente, com muitos fibroblastos, células em geral (como as inflamatórias) e líquido, sendo pobre em colagénio, mole, e podendo ser reversível (uma vez que as células podem ainda diminuir a sua actividade)
Antiga, pobre em células e líquido, e rica em colagénio, estável, irreversível


Patogenia
Geralmente são pós-inflamatórias e actuam na reparação tecidular.
Podem também não se dever a qualquer inflamação (Ex.: isquémias, enfartes, agentes tóxicos, ...). Um exemplo é a esclerose sistémica progressiva. Nesta, verifica-se a deposição de colagénio em diversos tecidos e órgãos.
Quando ocorre um processo inflamatório agudo, pode haver a acumulação e adesão de colagénio, que permanece lá. Isto origina uma pericardite fibrosa, que pode ser grave ou não, dependendo da localização em que se encontra (no coração, pulmões, intestino, .. podem comprometer o normal funcionamento dor órgãos).
Imagem 1: Fibrose observada ao microscópio (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu)

Imagem 2: Fibrose observada macroscopicamente (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu)

domingo, 17 de outubro de 2010

Pseudo-hipertrofia lipomatosa

Ocorre nos tecidos musculares, encontrando-se estes infiltrados e substituídos por tecido adiposo.
Geralmente, quando este fenómeno ocorre, atinge parte do músculo, sendo dificilmente perceptível durante a vida do animal, que consegue também apresentar um comportamento habitual.

Microscopicamente
Há áreas alternadas de feixes musculares (rosados) e tecido adiposo (células com o núcleo à periferia e lípidos em grandes vacúolos, quase não se notando mais nada).

Macroscopicamente
Músculo aumentado, esbranquiçado (com trabéculas em tons de amarelo pálido).


Imagem 1: Pseudo-hipertrofia lipomatosa no pescoço de um vitelo (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu)

Imagem 2: Pseudo-hipertrofia lipomatosa no pescoço de um vitelo (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu)



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dislipidose

Este problema surge por doenças hereditárias raras, que ocorrem devido a defeitos ou ausência  de uma enzima lisossomal necessária a uma das etapas da degradação intracelular dos lípidos. A falha no processamento normal provoca a acumulação de metabolitos insolúveis nas células, o que leva à hipertrofia, perda ou alteração de função e eventual destruição destas por sobrecarga.
Pode atingir vários tipos de células, como as mesenquimatosas, parenquimatosas, neurónios e macrófagos. 
A cada doença corresponde a acumulação de um tipo de lípido complexo especifico nas células. Assim, as doenças são classificadas consoante com a natureza bioquímica da tal substância acumulada.

Microscopicamente, as células afectadas apresentam espaços vazios.

Imagem 1: Fígado com dislipidose (Fonte: http://w3.vet.cornell.edu)

domingo, 10 de outubro de 2010

Esteatose

A Esteatose é uma perturbação no metabolismo dos lípidos. Por acumulação excessiva de triglicéridos no organismo, há um aumento dos lípidos intracelulares vacuolizados.

Varia com a causa e a quantidade, sendo geralmente reversível, excepto em casos onde há a interferência do tetracloreto de carbono ou outros tóxicos.
 Na sua forma mais ligeira não tem efeito na função celular, mas quando é mais acentuado pode alterá-la.


Causas:
- Mobilização (fome / gravidez) ou ingestão excessiva de triglicéridos
- Falta de proteínas (problemas metabólicos ou da dieta do indivíduo) que leva à não criação de lipoproteínas
- Deficiente oxidação de ácidos gordos
- Genética, ausência ou défice de enzimas que degradam o glicogénio

Patologia:
A oxidação de ácidos gordos no fígado não consegue acompanhar a sua entrada em quantidades excessivas, o que leva à redução da síntese de apoproteínas (a parte proteica, conjugada, das lipoproteínas), comprometendo assim a formação e secreção de lipoproteínas no fígado.

Microscopicamente:
Células que se assemelham a adipócitos, com vacúolos (confluentes ou não) e núcleo em posição periférica (ao contrário do que se verifica na degenerescência). 
- Fígado – perilobular ou centrolobular
- Rim – nas células epiteliais dos tubos renais, típico em gatos
- Coração – nos miócitos, pode levar a anemias graves

Imagem 1: Esteatose no fígado visualizada microscopicamente (Fonte: http://jcp.bmj.com)

Macroscopicamente:
- Fígado – maior volume, mais claro / amarelado, menor peso, bordos arredondados, friável e untuoso
- Rim – pálido, com estrias esbranquiçadas / brilhantes
- Coração – não há alterações muito visíveis, no entanto podem-se encontrar estrias esbranquiçadas.


Imagem 2: Fígado do centro com Esteatose (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).


sábado, 9 de outubro de 2010

Xantomas

É uma acumulação subcutânea de lípidos em forma de nódulos ou placas amarelados. Ocorre nas aves.
Têm uma quantidade variável de colagénio, macrófagos e tecido fibroso.
Podem ser firmes, com mais colagénio, ou moles, com predominância de macrófagos e tecido fibroso em geral. 
Se houver prevalência do tecido fibroso, toma um tom mais acizentado; caso a hemossiderina (pigmento derivado da degradação de hemácias, rico em ferro) esteja presente em maior quantidade, atribui uma coloração mais acastanhada.
Raramente é irreversível - só quando há grandes acumulações de tecido fibroso. Também a formação de grandes cristais dificulta a sua remoção. 
Xantomatose: quando há xantomas disseminados pelo organismo (ex.: xantomatose visceral)

Microscopicamente:
Formam-se células espumosas (por macrófagos que fagocitam lípidos) e também grandes células de Touton, multinucleadas, que resultam da fusão de derivados do sistema fagocitário mononuclear.
Encontram-se macrófagos, cristais de colesterol e tecido fibroso/colagénio.


Imagem 1: Xantoma observado microscopicamente (Fonte: Kumar et al. Cases Journal 2008)
 
Imagem 2: Xantoma na asa de um periquito (Fonte: http://petdocintraining.blogspot.com)


Aterosclerose

A Aterosclerose é um tipo de Arteriosclerose (espessamento e perda de elasticidade das paredes arteriais), na qual há a formação de placas ateromatosas na camada íntima, o que leva ao estreitamento do lúmen.

A formação de placas deve-se à lesão epitelial contínua, que pode ser causada por malformações, turbulência do sangue, batérias, vírus, ...
Esta lesão leva à entrada de lípidos no endotélio, passando assim a haver uma reacção inflamatória, e necrose de alguns tecidos.
Passa-se a encontrar colesterol extracelular e intracelular. Pode também haver a existência de linfócitos. 

Nas placas ateromatosas verifica-se uma calcificação (deposição de sais de cálcio pela ocorrência de necrose), a existência de detritos celulares, cristais de colesterol e células espumosas (macrófagos com lípidos).
Pode igualmente haver penetração de tecido fibroso, graças à reacção inflamatória, e encontrarem-se células musculares lisas que proliferaram por acção de mediadores das reacções envolvidas, bem como macrófagos ou células espumosas.  


Imagem 1: Aterosclerose em arteríola de pulmão (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).

Imagem 2: Aterosclerose em artérias coronárias (fonte: http://w3.vet.cornell.edu).

Colesterol

O colesterol tem origem no fígado, onde é feita a sua síntese, ou na alimentação do indivíduo.
É usado nas membranas celulares e hormonas esteróides e circula na forma de LDL e HDL, sendo eliminado pela bílis/hepatócitos e macrófagos.

Microscopicamente:
Intracelular - o colesterol fica acumulado em pequenas gotas ou vacúolos (quando há sobrecarga) que conferem um aspecto espumoso à célula e, numa técnica histológica convencional (hematoxilina-eosina), nos surgem como espaços vazios.
Extracelular - se o colesterol está presente em grande quantidade, este precipita formando cristais losângicos (esterificado) ou rectangulares (livre), que se tornam espaços vazios.


Imagem 1: Deposição de colesterol intracelular, nas células com aspecto claro e espumoso, coração (fonte: http://library.med.utah.edu).


Imagem 2: Acumulação de colesterol extracelular na forma de cristais (espaços vazios), pulmão (fonte: http://w3.vet.cornell.edu) 


Macroscopicamente:
Tem um aspecto amarelado, podendo-se sentir os cristais (caso estejam formados); pode haver formação de placas ou endurecimento com fibrose.